segunda-feira, 9 de julho de 2007

Os limites da fotogenia política

Adélia teria uma personalidade interessante, se fosse autêntica. A verdade, porém, é que o que parece ser a sua personalidade, o que apresenta como tal, é apenas uma imitação daquilo que lhe parece intelectualmente fotogénico.
É por isso que na política adopta sempre a postura que espera merecer aplausos daqueles que admira pela mesma razão que Nero admirava Petrónio e o tomava como árbitro das suas decisões e realizações, desde o que ele achava serem as suas aptidões musicais, aos espectaculares efeitos conseguidos pelo incêndio de Roma.
Daí viver sempre em permanente contradição entre a sua atracção pelo charme da burguesia, classe a que na realidade pertence por ascenção geracional e entrismo pessoal, e a sua postura para uso externo de guardiã da “ideologia da classe operária”, que ostenta nas manifestações de protesto contra as decisões que os seus mentores consideram como fazendo parte da estratégia daquilo a que chamam democracia burguesa, não se assume como pertencendo a qualquer partido ou movimento político organizado, mas gosta de ser vista como de algum modo ligada ao Partido Comunista, desmentindo porém que o seja, sempre que alguém tente identificá-la com tal. Tem, no entanto, sempre o cuidado de se colocar em termos abstractos à esquerda, embora seja incapaz de delinear, mesmo em traços largos qualquer projecto concreto de sociedade que possa apoiar.
Em suma, é absoluta e radicalmente contra tudo o que politicamente é tido como correcto ser contra, mas não consegue definir-se pró seja o que fôr de concreto. Enfim, é um modelo curioso de pequeno-burguês semi-intelectual em movimento de ascenção à média e, se possível, alta burguesia, membro desse segmento da pequena burguesia que se pretendeu chamar revolucionária e que falou em suicidar-se politicamente como classe para ressuscitar entre as massas, mas que por nada renuncia às vantagens que a classe em que se insere sempre lhe assegurou, simulando, ao invés, o salto que nunca dará, apenas tocando com um pé a borda do declive e o outro bem seguro na plataforma da burguesia, não vá perder o balanço e cair irremediavelmente, sem retorno, para o outro lado.
Essa é a fronteira, esse é o limite real do risco com que todos os malabaristas políticos sabem que não podem brincar.
Esse é também o limite até onde a fotogenia política os consegue levar.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

About the article on Cape Verde (Sunday edition, June 24,2007)

Any society, as far as medium exposure is concerned, is exposable from a negative perspective, and we, Cape Verdeans are not exempt from that. Fortunately we have had and continue to have enough positive, some of them very positive, exposures, in the media to make up for that kind of liability.The Cape Verdeans in general have been traditionally raised in family environments and educated according to cultural and moral ( which includes, of course, the religious) patterns and values that make of us what we are . And I am talking about the mainstay of the Cape Verdean traditional society, based on the family upbringing and on what has been taught in our schools.But let us face the facts. A lot of things have changed and continue to change in the Cape Verdean society, both at home and in the Diaspora communities. Instead of reacting oversensitively, we should take stock and go on struggling, as we have always done to preserve and fight for our values and for our dignity as a people. At home or in the Diaspora we are a nation. That is why we call ourselves Cape Verdeans, or Cabo-vedianos, wherever we are, and that is why the other nations have learnt to call us Cape Verdeans. For good or for bad. In Cape Verde we survive planting corn, beans, sweet potato, squash and sugar cane. But weeds are part of what grows in our lands. We have to know how to manage our crops. We have learned to do many things to overcome our difficulties . Maybe we can learn how to turn weeds into useful crops.No single country owns the world ( the planet). It is our world. And it is more and more One World.The article in the New York Times about Cape Verde and the Cape Verdeans gives us a one-sided picture of Cape Verde, no matter how true the facts that have been exposed are. But it is just one side of our reality. Let us not be condescending about the negative aspects of our society. Let us not blind ourselves about what is happening in many respects both in Cape Verde and in the Cape Verdean immigrant communities and the interaction between the two sides of our reality. Instead, let us go on struggling for the so many reasons and goals that encourage us to fight.