Livro "Identidade"
(...) Muitos intelectuais cabo-verdianos, na sua maior parte já nascidos nos Estados Unidos, tinham aderido a esse movimento de afirmação étnica. Mas a maior parte da comunidade imigrante cabo-verdiana observava, sem intervir, o que se passava sua volta. De um modo geral não aprovavam certas manifestações exteriores dessa forma de afirmação étnico-política e que se traduzia, entre outras coisas, numa certa maneira de vestir, na barba crescida que alguns jovens passaram a usar e no acentuar de certas características étnicas. Por vezes o conflito de gerações era agravado pela oposição ostensiva e sistemática a determinados valores avaramente preservados pela comunidade ao longo de várias gerações. Os afro-americanos investigavam com um novo orgulho as suas próprias raízes étnicas. Os cabo-verdianos mais jovens, confrontados com as perguntas dos seus colegas negros nas escolas que frequentavam, punham essas mesmas perguntas aos pais. O que é que nós somos afinal? Cape Verdean não é raça. Nesse enorme cadinho que constituía a sociedade americana, um "melting pot" onde na realidade os diferentes elementos não só não se misturavam, como viviam numa contiguidade que era tudo menos pacífica, a pergunta assumia formas dramáticas.— Man, what are you?— I'm Cape Verdean.— Yeah, but what's that, Black, Hispanic, what?— Well, I am black. I can't speak for all the others.— But you don't act black!A perplexidade do protagonista deste diálogo com um colega afro-americano perante as suas dúvidas foi manifesta ao Jaime por um jovem cabo-verdiano nascido nos Estados Unidos, a propósito destas questões. (...)